Introdução
O hipertireoidismo é uma doença endócrina comum em gatos geriatras, podendo raramente acometer gatos jovens. É causada pelo funcionamento anormal da glândula tireóide, responsável pela concentração excessiva dos hormônios T3 e T4 na corrente sanguínea. Ela pode ser diagnosticada através da mensuração da concentração de T4 sérico total, há casos em que o hipertireoidismo está presente de forma oculta, com alguns sinais clínicos sugestivos mas com o T4 total normal.
Ele é quase 95% decorrente de uma hiperplasia adenomatosa que leva a produção excessiva desses hormônios.
Anatomofisiologia
A glândula tireoide do felino é dividida em dois lobos distintos, chamados lobos tireoidianos que se encontram ventrolaterais à traqueia e dorsais aos músculos esternotireóideo e esternohioideo.
Essa possui uma unidade funcional, denominada folículo tireoidiano. Nele há um colóide rico em tireoglobulina, esses hormônios são secretados pelas paredes do folículo, se armazenando no líquido folicular.
É importante frisar que ao serem secretados, 93% correspondem à tiroxina (T4) e os outros 7% à triiodotironina (T3). A regulação dessas secreções hormonais é conduzida pelo eixo hipotálamo-hipófise-tireóide, que libera TRH (hormônio liberador de tireotrofina).
Quando esse hormônio sofre um aumento em sua produção, ele secreta de forma abundante e anormal os hormônios T3, T4 e TSH (hormônio estimulante da tireoide), que são responsáveis pelo aumento do consumo de oxigênio, absorção de glicose que potencializa a ação da insulina, aumento da força de contração cardíaca, aumento do volume sistólico, manutenção do equilíbrio proteico, estímulo da lipólise e secreção de GH.
Patogenia
Sua patogênese pode ser circulatória (imunoglobulinas) ambiental, nutricional (excesso de iodo) e até mesmo por fatores genéticos e hereditários.
Acredita-se que rações enlatadas e o uso de areias com granulados aumentam consideravelmente o risco no desenvolvimento do hipertireoidismo. Por utilizarem em seu processamento compostos como o bisfenol, que é metabolizado de forma lenta no organismo dos felinos.
Há também a presença elevada de iodo em alguns medicamentos, que podem acarretar o hipertireoidismo em animais mais velhos.
Sinais Clínicos
Alguns dos sinais mais comuns são: perda de peso, polidipsia, poliúria, pelos arrepiados e alopecia bilateral ou irregular, diarréia e êmese, taquipnéia, hiporexia, alterações de comportamento e hiperatividade. Em 90% dos felinos é possível palpar a glândula tireoide.
Em alguns casos, o gato pode apresentar letargia, fraqueza muscular, anorexia e anormalidades cardíacas.
Há doenças que podem ocorrer ao mesmo tempo que o hipertireoidismo e até mesmo serem ocasionadas por ele, como cardiomiopatia tireotóxica, insuficiência renal e doenças gastrointestinais.
Exame físico e diagnósticos
O exame físico que pode ser feito é a palpação da glândula tireoide, ela é palpável em 90% dos casos de hipertireoidismo. É importante ressaltar que nem sempre será possível sentir a tireoide aumentada, o que não significa a falta da doença.
Os exames que podem ser feitos para conseguir um diagnóstico preciso são :
● Hemograma;
● Urinálise;
● Perfil bioquímico (ALT, FA, AST, Uréia e creatinina);
● T4 total.
Alguns veterinários podem pedir exames menos comuns como: radiografia torácica, ultrassom cervical, exame de imagem da tireoide, pressão arterial e eletrocardiograma.
Tratamento
A escolha do tratamento é totalmente individual e de acordo com a necessidade de cada paciente, por exemplo a idade, gravidade e a presença de doenças concomitantes, ele consiste em controlar os hormônios tireoidianos elevados, ele pode ser tratado de três maneiras, sendos elas:
Tireoidectomia → É considerado o tratamento mais radical do hipertireoidismo, é realizada uma cirurgia de remoção total da glândula, podendo usar as técnicas intracapsular, extracapsular e extracapsular modificada.
Esse método por ser mais invasivo tem um alto índice de mortalidade, o animal também pode apresentar algumas consequências como a hipocalcemia.
Iodoterapia → É uma das formas de tratamento mais simples, segura e que gera excelentes resultados. Ela consiste em emitir partículas e radiação gama, que “destroem” as células malígnas ou hiperplasiadas sem provocar danos às glândulas paratireóides e ao tecido que está normal. Sua aplicação pode ser oral, intravenosa ou subcutânea.
Efeitos colaterais a esse tratamento são raros, mas quando acontecem são auto limitantes, e seus resultados aparecem cerca de 12 semanas após o tratamento, para alguns felinos apenas uma sessão de iodoterapia é suficiente para o reparo do hipertireoidismo.
Medicamentos Antitireoidianos → Os fármacos são um tipo de pilar terapêutico para os médicos veterinários, alguns dos medicamentos mais utilizados são o metimazol, carbimazol e a propiltiouracil, elas atuam no bloqueio dos hormônios tireoidianos, se concentrando na glândula da tireóide e atuando como inibidores da secreção de tiroxina.
Prognóstico
O prognóstico do hipertireoidismo felino é de excelência para a maioria dos pacientes quando se realiza o tratamento e faz o acompanhamento veterinário recomendado.
Há casos em que o prognóstico é mais complicado, por exemplo quando há o diagnóstico de outras doenças ao mesmo tempo que é diagnosticado o hipertireoidismo, sendo necessário o tratamento de ambas doenças.
Também há casos em que há presença de carcinoma tireoide, nesses casos o prognóstico depende da eficácia do tratamento utilizado.
Referências Bibliográficas
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