A urolitíase, um termo genérico que se refere às causas e efeitos dos urólitos, cuja definição é a formação de sedimento, consistindo de um ou mais cristaloides pouco solúveis no trato urinário, está entre as causas mais comuns de obstrução do trato urinário inferior dos felinos. Estes sedimentos sólidos, os urólitos, são formados a partir de falhas na excreção de metabólitos corporais pela urina, havendo acúmulo de precipitados, os cristais.
Em estudos realizados no período de 1981 a 2007, foi constatado que 46% das litíases em gatos eram compostas por oxalato de cálcio, enquanto 43% eram compostas por estruvita. O risco de desenvolvimento de urolitíase está relacionado com fatores dietéticos e não dietéticos. A dieta pode contribuir no aparecimento, manejo ou prevenção de recidivas de urolitíases. Alguns fatores como ingredientes da dieta, sua digestibilidade, pouca ingestão de água, composição química e o tipo de alimentação podem influenciar no volume, pH urinário e a concentração de solutos da urina.
Os urólitos de estruvita são formados em urina supersaturada com fosfato, amônio e magnésio, em pH maior que 6,5. São solúveis em pH menor que 6,5 e a cristalização raramente ocorre em pH menor que 6,3. Gatos que se alimentam com dietas compostas por altos teores de fósforo têm uma maior predisposição a desenvolver estes tipos de urólitos de estruvita, pois altas concentrações de fósforo aumentam a excreção urinária desta molécula e por sua vez, a supersaturação urinária com magnésio, amônio e fosfato.
Urólitos estéreis de estruvita (que têm origem multifatorial, destacando-se a queda no volume urinário, aumento da densidade da urina e consumo excessivo de alimentos ricos em magnésio e fósforo) podem se dissolver caso seja oferecida uma dieta que possibilite o aumento de volume urinário e um pH menor de 6,4 (mais ácido). Esta dieta deve conter baixos níveis de magnésio e quantidades apropriadas de sódio para que ocorra o aumento da ingestão hídrica e desta forma também o aumento do volume urinário, promovendo a diluição da urina. Após a resolução completa do quadro, bem como a não visualização do urólito nos exames de imagem, é recomendado que continue com a dieta calculolítica por 30 dias. O aumento da ingestão hídrica pode ocorrer por meio do uso de alimento úmido, além de outros métodos que possam aumentar o interesse dos gatos por água. Desde que a dieta correta seja instituída, não será necessária uma suplementação oral com acidificantes urinários. Como dito anteriormente, cálculos de estruvita desenvolvem-se em pH urinário alcalino.
O grau de acidificação urinária é determinado por proteínas presentes no alimento, as de origem animal possuem um papel acidificante.
Dietas calculolíticas têm o objetivo de reduzir a concentração urinária de fósforo, magnésio e ureia, diminuindo a disponibilidade de substrato para a formação do urólito. Tais dietas comerciais contém em sua composição um nível moderado de proteínas, são altamente digestíveis e possuem baixo teor de fibras, para reduzir a perda de água pelas fezes, além de um teor de cloreto de sódio discretamente aumentado.
As litíases de oxalato de cálcio geralmente acometem animais de meia idade a idosos, sendo que a faixa etária com maior risco está entre 7 e 10 anos, onde os felinos tendem a produzir maiores valores de supersaturação urinária, além de ter uma significativa redução no pH urinário, quando comparados à gatos jovens. Alguns fatores estão associados ao desenvolvimento de urólitos de oxalato de cálcio em gatos, como causas genéticas, raciais, relacionadas à sexo, inatividade e acesso à rua, ingestão hídrica e obesidade. Gatos machos são os mais acometidos e têm maior chance de desenvolvimento deste tipo de urólito. Persas, Himalaios, e o Ragdoll são as raças mais predispostas, o que mostra uma possível influência genética.
Gatos sem acesso à rua, assim como gatos obesos, são mais dispostos às litíases de oxalato de cálcio, sendo o aumento da ingestão mineral alimentar associado à menor ingestão hídrica e retenção urinária prolongada, condições que favorecem o aparecimento dos urólitos. Animais que comem várias refeições ao dia tendem a ter maior ingestão hídrica quando comparados aos que fazem menos refeições diárias, o que gera maior diluição da urina e redução da saturação urinária, que assim como nas litíases de estruvita, é um fator positivo na prevenção do cálculo. Uma urina diluída apresenta menor concentração de minerais que formam os cristais e contribui para aumento no volume urinário, o que por sua vez reduz a concentração de substâncias litogênicas, diminui a densidade urinária, aumenta a frequência de
micção e auxilia na eliminação de qualquer cristal que se forme no trato urinário.
A hipercalcemia também está relacionada ao aumento no risco de desenvolvimento de urólitos de oxalato de cálcio. Dietas com excesso de precursores do ácido oxálico (como sementes, legumes fermentáveis e vitamina C) aumentam a excreção de oxalato pela urina, aumentando a saturação urinária, portanto, devem ser evitados.
Em gatos, dietas com baixos níveis de magnésio assim como baixos índices de fosfato, estão associadas ao aumento do risco de desenvolvimento de urólitos de oxalato de cálcio. Já dietas com baixos níveis de fósforo, tornam os gatos mais predispostos destes urólitos, visto que a hipofosfatemia ativa a vitamina D, gerando aumento da absorção intestinal e excreção renal de cálcio. Já que os urólitos de oxalato de cálcio não são dissolvidos, a nutrição desempenha função importante na prevenção de recidivas da urolitíase.
Gatos alimentados com rações secas, que contém baixo teor de umidade, tendem a produzir menos urina, além de urinar com menos frequência, o que pode deixar a urina mais concentrada, facilitando a ocorrência de urolitíases. Além do aumento da ingestão hídrica, a ingestão de dietas contendo um teor de sódio levemente elevado estimula hormônios como vasopressina e angiotensina, que ativam o mecanismo da sede e consequentemente aumentam a diurese. Atualmente no Brasil existem rações específicas para animais com urolitíase, sendo encontrado cerca de 7,5 gramas/kg de sódio para gatos. Alguns estudos demonstraram que o aumento moderado de sódio na dieta não interfere no aumento da pressão sanguínea dos gatos.
Como vimos, a nutrição possui papel essencial na prevenção das urolitíases, proporcionando melhor qualidade de vida para os gatos. A modificação da dieta para alimentos com níveis corretos de fósforo, magnésio e cálcio, com pouca adição de cloreto de sódio, que viabilize um pH urinário entre 6,2 e 6,6, pode ser utilizada. E alimentação que proporcione maior ingestão hídrica, como os alimentos úmidos.
Referências
https://www.fcav.unesp.br/Home/departamentos/clinicacv/AULUSCAVALIERICARCIOFI/urolitiase-texto.pdf
https://portalvet.royalcanin.com.br/saude-e-nutricao/trato-renal-e-urinario/urolitiase-felina/
MANEJO NUTRICIONAL PARA CÃES E GATOS COM UROLITÍASE – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
[Nutritional management of dogs and cats with urolithiasis – review) - https://periodicos.ufersa.edu.br/acta/article/download/1104/700/3447
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