A esporotricose é uma micose cutânea e subcutânea, acarretada pelo fungo do gênero Sporothrix (Marimon et al., 2007), que pode afetar os seres humanos e diversos animais. A esporotricose é um fungo que apresenta duas formas no seu ciclo de vida: micelial (de filamentos) e levedura (parasitária). Na forma micelial, o fungo está presente em matérias orgânicas, plantas, espinhos de arbustos árvores, vegetações, terra, madeira, e solo em decomposição. Em função disso ela se tornou comumente conhecida como “doença dos jardineiros”, já que a inoculação de matéria orgânica contaminada ocorre por meio de pequenos traumas na pele, comuns em trabalhadores envolvidos com a terra.
Etiologia
Devido a sua presença em matéria orgânica, muitos gatos de vida livre adquirem a doença dessa forma. Isso torna possível que a transmissão ocorra através de mordidas e/ou arranhaduras dos gatos infectados, uma vez que o fungo se instala nas garras e na mucosa. Após o contato com o animal infectado, o período de incubação pode ser de 1 a 10 semanas.
Sinais clínicos
Ela se manifesta clinicamente como lesões cutâneas nodulares ou em placa, firmes, alopécicas e indolores que fistulam ou ulceram, liberando líquido serossanguinolento (Gross et al., 2009). A esporotricose pode ser classificada em três estágios:
Cutânea - os fungos atacam o organismo de maneira mais superficial. É possível ver um nódulo avermelhado, além de secreções que lembram abscesso e feridas de difícil cicatrização. Mais comum encontrar lesões no rosto, plano nasal, base da cauda e pernas, podendo ser apenas uma ou várias.
Linfocutânea - o fungo ataca a pele de maneira mais profunda, nódulos cutâneos progridem e se tornam úlceras com secreção na pele, comprometendo o sistema linfático.
Disseminada - estágio mais avançado da doença. O fungo já está presente em grande parte do organismo, incluindo fígado, pulmões e ossos. O felino pode apresentar apatia, êmese, diarreia, febre e sangramentos.
Embora seja rara, a forma disseminada pode acontecer quando o gato não recebe o tratamento adequado.
Diagnóstico
O diagnóstico pode ser obtido de três maneiras:
Citologia: pode ser feita a partir de decalque em lâmina, swab e fragmento cutâneo
Cultura fúngica: pode ser feita a partir de decalque em lâmina, swab e fragmento cutâneo, podendo demorar até 30 dias para obter o resultado.
Histopatológico: feito a partir de um fragmento cutâneo de lesões recentes.
A esporotricose é semelhante a doenças como carcinomas e leishmaniose. Por isso, é recomendado que os tutores, ao perceberem lesões na pele dos animais, os levem imediatamente ao médico veterinário, ou em casos extremos ao Centro de Controle de Zoonoses para que seja feito o diagnóstico.
Tratamento
O tratamento de escolha é o antifúngico Itraconazol, que deve ser administrado uma vez ao dia, durante o tempo mínimo de 90 dias. Se em 15 dias o gato não responder ao tratamento, pode ser associado ao Iodeto de Potássio, sendo este administrado três vezes ao dia junto ao alimento. Casos refratários ao Itraconazol podem ser tratados com Anfotericina B intralesional ou subcutânea. Após o desaparecimento das lesões, é necessário que o gato ainda fique com as medicações durante um mês.
As medicações podem causar efeitos colaterais, sendo eles:
Náusea
Anorexia
Êmese
Aumento sérico das enzimas hepáticas
Prevenção
Se tratando de uma zoonose, é muito importante impossibilitar a saída exploratória e o acesso à rua de animais domésticos contaminados, portanto impedir a dispersão da doença e que animais saudáveis se contaminem. Toda e qualquer manipulação de animais doentes pelos seus donos e veterinários deve ser feita com o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), e mantê-los isolados durante o tratamento.
Referências:
Garcia Carnero LC, Lozoya Pérez NE, Gonzalez Hernández SE, Martínez Álvarez JA. Immunity and Treatment of Sporotrichosis. Journal of Fungi. 2018; 4(3):100.
Gremião, I.D.F., Martins da Silva da Rocha, E., Montenegro, H. et al. Guideline for the management of feline sporotrichosis caused by Sporothrix brasiliensis and literature revision. Braz J Microbiol 52, 107-124 (2021).
Gremião, I. D. F., Miranda, L. H. M., Reis, E. G., Rodrigues, A. M., & Pereira, S. A. (2017). Zoonotic Epidemic of Sporotrichosis: Cat to Human Transmission. PLOS Pathogens, 13(1), e1006077. doi:10.1371/journal.ppat.1006077
Esporotricose: causas, sintomas e tratamento | Petz. Disponível em: <https://www.petz.com.br/blog/bem-estar/esporotricose-tudo-sobre-essa-doenca-comum-entre-os-bichanos/>. Acesso em: 5 dez. 2023.
Esporotricose em gatos: proteja seu peludo | Petz. Disponível em: <https://www.petz.com.br/blog/saude-e-cuidados/esporotricose-em-gatos/>. Acesso em: 5 dez. 2023.
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